Desde a primeira edição desta newsletter, parece que escrevo pedindo licença ou alguma justificativa para ser autorizada (sei lá por quem) a escrever a próxima página. Sentia que só poderia ser escritora nas brechas que me eram permitidas pelo trabalho, mas com o passar do tempo elas ficavam cada vez menores, não porque eu estivesse mais ocupada, mas porque a escrita desejava mais e mais espaço.
Participar da FLIP era mais uma dessas coisas que devem ser feitas para manter minha carteirinha de escritora. Ano passado, tive que lidar com a frustração do “quase ir”, mas hoje prefiro acreditar que esse “quase” pode ter sido a gota d’água que me faltava para responder ao que a escrita me perguntava insistentemente: “Até quando você vai se conformar a viver nas brechas?”.
Com mais urgência do que coragem, me lancei ao mar da arte, mas não sem antes enviar uma mensagem na garrafa que dizia “Vamos ser amigas?” e as amigas vieram em forma de arrobas no Instagram e comentários no Substack. E com elas veio mais coragem de remar, até poder embarcar na minha primeira FLIP como uma celebração de um caminho que escolhi e que foi me escolhendo, a vida de escritora.
Meus pais me levaram de Lorena até Paraty para comemorar meu aniversário. Passeamos pela cidade, almoçamos e eles me deixaram no hostel. Só então percebi que pela primeira vez em muito tempo eu tinha um dia livre e sem planejamento nenhum.
Decidi ocupar a cabeça e o corpo percorrendo o centro histórico numa espécie de caça ao tesouro para encontrar as casas onde aconteceriam os eventos. Assim, consegui me convencer de que estava aproveitando o dia, sendo produtiva e me preparando para quando a FLIP começasse “de verdade”.
No primeiro dia, passei a tarde sozinha e seguindo à risca o roteiro. Vi uma palestra que me enganou pelo título, mas serviu para perder a vergonha de começar a fazer stories e descobrir que o caderno que levei era trambolhento demais. Voltei para o hostel com a bateria do celular e o desodorante precisando de uma recarga.
Tomei banho, vesti o look previamente escolhido e fui para o sarau do coletivo Escreviventes cheia de expectativas de encontrar presencialmente aquelas escritoras que me acenaram de volta no mundo virtual. Mal cheguei e já fui recebida pelo sorriso da Luísa, o abraço da Monique e a amizade espontânea da Pâmela. De improviso, declamei minha poesia, enfim, pude respirar fundo. Depois de tanto caminhar e escrever, encontrei o que procurava.
Dali para frente, a agenda da FLIP foi tomada pela programação paralela das casas independentes, convites para prestigiar o lançamento das novas amigas, encontros que me levavam a vadiar pela ponte ou na beira do rio. Sem contar com as festas e o forró que definitivamente não estavam no meu cronograma. Ainda bem.
Para o gostinho de quero mais:
Essa edição da newsletter da Luísa sobre a Flip representou o que vivi mais fidelidade do que meu próprio diário.
Editora Arpillera que produz livros manualmente, recomendo esse tesouro da Pâmela: Editar o sonhos com o esquecimento
Como foi lindo te encontrar nesse tempo suspenso e mergulhado na literatura que é a FLIP! 💜
Minha primeira flip ainda não chegou, mas espero estar lá, com um cronograma menos elaborado, no ano que vem! Adorei a edição ❣️