Nas últimas semanas eu ouvi a mesma queixa vinda de fontes e formas diferentes: “Leila, você não conta nada.”
Não é que eu seja do tipo come-quieto (pq me recuso a dizer low-profile quando a gente tem uma expressão tão melhor na nossa língua). Eu até tenho meus momentos de compartilhar o quotidiano no Instagram e não resisto à uma nova plataforma pra poder abrir um blog. O problema é na hora que me perguntam:
— E aí, como você tá?
E a vontade é dizer:
— Sei lá eu, como é que eu tô?
Sou do tipo que detesta contar como foi meu dia pq parece que contar é viver o cansaço e o tédio do dia comum, tudo de novo. Sou do tipo que precisa assistir um filme duas vezes pra entender a história e mesmo assim volto pelos menos mais umas três vez pra observar minhas cenas favoritas. Sou do tipo que separa uma tarde inteira pra ouvir o álbum novo: primeiro na ordem linear das músicas pra entender a proposta do artista, depois no aleatório pra identificar se aquela música que me chamou atenção da primeira vez é boa mesmo ou se alguma pérola ficou perdida.
O que estou tentando explicar é que eu preciso entender tudo o que acontece comigo, voltar nas cenas importantes daquele momento, conhecer minhas faixas de trás pra frente e no modo aleatório pra só então me sentir à vontade e contar uma boa história sobre mim com as doses certas de suspense, emoção, entretenimento e quando possível uma boa lição sobre a vida no final.
Obviamente que se a vida real não dá conta nem de seguir um único dia de rotina perfeita que eu planejo meticulosamente todas as noites antes de dormir, o que dirá um enredo maiorzinho que dê conta de responder “como eu estou”?
Então vou contar como eu estou, no último ano eu:
consegui o emprego dos sonhos e viajei o Brasil inteiro a trabalho
perdi o emprego dos sonhos com menos de três meses de contrato e na semana seguinte me contrataram de volta…
… pra depois ser demitida pra valer quando eu tava quase reservando as primeiras férias CLT da minha vida
Entendi que era o empurrãozinho do destino pra eu pegar o dinheiro da demissão e investir na minha vida de artista. Fiz planos pros três meses de seguro-desemprego, que incluíam me inscrever no edital da proac, etc…
Só que o empurrãozinho da vida foi forte demais e na primeira semana da minha nova fase de artista eu fiquei doente e o tratamento me fez perder o prazo da Proac;
Em compensação quando me recuperei da saúde estava de volta no antigo trabalho (não o dos sonhos, mas outros que eu gosto muito e paga as contas);
Nesse meio tempo eu realizei o sonho de mudar de apartamento e ir morar com uma das minhas melhores amigas no melhor bairro de SP;
Sem contar a vida amorosa que a esse ponto tá parecendo um belíssimo macramê.
E com esse roteiro completamente sem pé nem cabeça de tudo o que eu vivi, como vocês diriam que eu estou?
Tudo o que eu posso dizer é que neste momento eu estou lendo dois livros de autoajuda:
Aurora, da Marcela Ceribelli, pra me tranquilizar ao saber que todas as minhas neuras e preocupações são compartilhadas por uma geração de mulheres cansadas, nada como estar alinhada ao espírito do tempo.
O Caminho do artista, da Julia Cameron, que me ajuda bastante a desbloquear das parnoias de artista, apesar do discurso inicial me lembrar um pouco dos retiros de cura e libertação que eu participava na época de igreja.
como voce esta? eu la vou saber !!!! ameiii <3