Recomendações de perfis, cursos e oficinas de escrita para ficar de olho em 2024.
Diário da escritora #10
Para começar a escrever em 2024
Esta carta se destina a quem sente que 2024 será o ano de lançar a pedra fundamental da sua escrita. Vou compartilhar as experiências e aprendizados que me deram prumo nos cursos e oficinas de escrita criativa que já participei desde 2020.
A ordem dos tratores foi fundamental para este viaduto, se eu tivesse começado esses curso de trás pra frente ou pelo meio provavelmente encontraria pedras no caminho que não saberia usar. Então, abre aí tua agenda e acompanhe tijolo por tijolo o meu desenho mágico.
Escola de Escrita - Esc. (Julie Fank - Curitiba)
Conheci este curso por indicação de um dos meus cantores favoritos, Leo Fressato, era tempo de pandemia e eu tinha acabado de defender o mestrado. A Esc. tem sede física em Curitiba, mas naquele período oferecia aulas online. Eu fiz dois cursos lá e só não fiz três pq não deu pra conciliar o horário com trabalho.
As aulas são pautadas pela lousa mais caótica e interessante que já vi na vida. Julie nos conduz por um mapa de referências teóricas, artísticas, palavras e fotos de manequim com exercícios muito provocadores que ao final do curso se transformam num baú valioso de estudo e técnicas para os momentos de bloqueio.
Escrita criativa: primeiro contato, narrativas e procedimentos
Tenho uma aba no app do google eternamente aberta com a descrição desse curso, ele sem dúvida foi a minha luz no fim do túnel. O primeiro passo pra finalmente me reencontrar e me validar como escritora. Lembro muito bem da sensação de não querer ir embora depois da primeira aula, de sentir que pertencia a um grupo, reconhecida por outros escritores. Tive certeza de que a minha escrita não era um delírio ou um agrado de quem me conhecia.
Esse curso foi alicerce para ressignificar minha bagagem teórica e a marreta para quebrar o tabu de que escritor não pode aprender técnica. Sem dúvida nenhuma o melhor dessa oficina foi aprender a importância de manter uma curadoria do meu repertório, com isso eu abri meu olhar para outras formas de arte e a minha curiosidade nunca mais deixou de alimentar minha criatividade.
Esboço, processo e desembaraço
No segundo curso eu via paredes sendo quebradas a cada aula, ficaram só os pilares de sustentação e enfim as ideias puderam circular livres e arejadas. Minha escrita amadureceu, deixou de ser ingênua e simplesmente memorialista. O sótão deu lugar à claraboia. Foi com esse curso que eu percebi a importância de cultivar interesses para além do que é literatura. Descobri que os artistas se interessam e se a grama do vizinho parece mais verde, é lá que eu vou bater e perguntar se tem açúcar.
Nota de destaque: meu coração libriano me obriga a mencionar o deslumbre diante dos óculos e colares da Julie.
Quando: se você está no momento de conhecer teoria literária, técnica de escrita ou se pensa que fazer cursos de escrita criativa não é pra você.
Mulheres que escrevem (Taís Bravo e Estela Rosa - Rio de Janeiro)
Fiz as oficinas de verão com o objetivo de me desafiar em relação à timidez e testar águas mais profundas com a minha autoafirmação como escritora, além de poder conhecer, veja só, mulheres que escrevem.
Elas me trouxeram um excelente panorama da literatura contemporânea escrita por mulheres e também fui apresentada ao cenário das pequenas editoras e escritoras independentes. Foi nestas oficinas que eu tive a ideia para o meu primeiro romance e também aprendi a desamarrar meu texto de referências clássicas para escrever com palavras de hoje.
O foco aqui não era tanto aprofundamento teórico, mas foram bem densos em referências literárias e me trouxeram ainda mais dispositivos de escrita. Por isso mesmo que foi importante começar pela Julie, me ensinou a articular o que eu sabia de teoria literária para explorar de forma criativa a literatura contemporânea que a Taís e a Estela estavam me apresentando. Na faculdade eu aprendi a fazer crítica literária de uma forma passiva, entender e apreciar a técnica de quem já escrevia. Depois destas oficinas eu aprendi a entender e criar a partir da técnica de quem já escrevia.
Além disso, a cada encontro nós tínhamos a oportunidade de experimentar gêneros diferentes, desde a poesia, passando por relatos, ensaios até gênero híbrido. Descobri que me divirto demais brincando com poesia, mas sem dúvida nenhuma o ensaio é a minha parada. É a minha desforra com a academia e a ABNT. Recomendo fortemente pra quem tá no momento “quero escrever, mas não sei o quê”.
Quando: se seu momento é cuidar do repertório, conhecer quem está escrevendo atualmente e se você quer experimentar os gêneros textuais pra descobrir qual sua praia.
Sobre a escrita que está em nós (Aline Bei - São Paulo)
Esse curso da Aline Bei foi excelente para formar meu ciclo de estudos. Tinha mesmo que ter sido um dos últimos pq se fosse o primeiro eu teria ficado muito frustrada. A linguagem do curso e os dispositivos de escrita me levaram a lugares que eu não conseguiria acessar sem ter rompido as barreiras de autocrítica e validação que os cursos anteriores me ajudaram a derrubar.
Por exemplo, enquanto a investigação de repertório da Julie me ensinou a olhar para referências mais concretas como filmes, séries, museus e lugares, a investigação de repertório da Aline buscavam coisas abstratas como “a casa onde mora sua infância” ou “descortine o fantasma que te habita” que talvez minha artista interior não conseguisse encontrar se ainda estivesse tímida e fragilizada.
Aliás, foi este exercício que deu origem ao primeiro capítulo do livro que eu tive ideia de escrever na oficina anterior a esta. Escrever é aprender a construir e morar numa casa muito engraçada, sem teto, sem nada.
Nunca vou me esquecer de um participante que foi compartilhar sua produção de um dos exercícios propostos e no meio da leitura ele começou a cantar. Foi lindo, poético, catártico. Por isso eu repito, se esta fosse a minha primeira oficina eu teria pensado: não vai dar pé pra mim. Mas como eu já tinha feito as pazes com a minha autocrítica, aprendido a usar a bagagem teórica da faculdade ao meu favor e conhecido escritoras do meu tempo, o que eu pensei foi em todas as formas de arte que a minha escrita poderia acessar.
Quando: se você se sente confortável no seu corpo de artista e quer se desafiar com dispositivos de escrita sensíveis e potentes
Escrever textos longos (Laura Cohen - Belo Horizonte)
Neste ponto eu já estava viciada em participar de oficinas. Ficava ansiosa para o momento de apresentação da primeira aula, só pra poder dizer “Meu nome é Leila, sou professora de italiano e escritora.”
Agora eu já me sentia confortável e aberta a descobrir e experimentar novos dispositivos de escrita, além de mais atenta em admirar a produção dos colegas de turma do que expor a minha.
Com a Laura aprendi a olhar para o meu texto como faz um artista: técnica e disciplina sem perder o encanto e a emoção. Sabe aquele momento do filme que a escritora enche a parede de post-it e anotações? Pois é, aprendi o que fazer depois que essa euforia passa.
E o que deve ser feito é organizar a estrutura do romance, imprimir para editar, criar fichas, não ter medo de mudar as coisas do lugar ou fazer grandes reformas. Mestre da minha obra.
Quando: se você já tem um projeto de escrita de grande fôlego e precisa daquele empurrãozinho pra sentir que vai dar conta do recado
Menções Honrosas
Clube de Escrita para Mulheres (Jarid Arraes e Ana Clara de Vitto - São Paulo)
Como diria a Ana Clara, esse clube é mágico. De todas as propostas e oficinas apresentadas, esta é a única gratuita e proporciona uma síntese de toda a experiência que eu vivi ao longo destas oficinas. Não se trata exatamente de um curso ou oficina, são encontros abertos e independentes.
A gente começa se apresentando e este momento é valioso, pois traz o sentimento de que não estamos sozinhas em nossas inseguranças e nos coloca em contato com outras escritoras que nos acolhem e dizem “eu também me sentia assim, mas hoje estou neste outro momento e você também pode!”.
No segundo momento a mediadora apresenta uma proposta disparadora de escrita, nós ficamos em silêncio produzindo e ao final a participação é livre com apenas duas regras: não justifique seu texto, apenas leia e não critique a produção da outra, apenas comente se tiver elogios.
A magia que aconteceu comigo neste encontro foi conhecer a Tatiana Lazzarotto que me apresentou à Tainã e que me levou ao último andar deste andaime.
Quando: a qualquer momento, fiquem de olho no instagram pra saber dos próximos encontros.
Palavras de Fogo (Tainã Bispo - São Paulo)
Aqui foi catarse, celebração, bruxaria. Começando pelo que há de mais essencial: pão na mesa e caderno no colo.
As escritoras iam chegando, se servindo no café da manhã, pegando seu caderninho e celebrando as obras publicadas de nossas pares. Cada uma em sua cadeira, sentadas em rodas ouvindo e compartilhando tantas jornadas, tantas belezas.
No fim do dia compartilhamos também o fogo da cachaça e o cansaço de um dia inteiro de alimento para a alma, a vontade de voltar pro ninho e o desejo de continuar em comunidade.
Quando: não sei se é uma edição recorrente, mas se você precisa de um ritual de passagem, aproveite a oportunidade.
Obrigada por essa lista e por dividir tuas experiências! <3
Leila! Acredita que não tinha chegado até o final, agora que vi que estivemos juntas no encontro da Tainã <3