Dançar enquanto os pratos quebram
Diário da escritora #11 — Minhas férias acabaram e precisei recalcular a rota
É bonito ver o quanto essa (escritora de) newsletter amadureceu em tão poucas publicações. Nem de longe é o meu primeiro blog, mas deve ser a primeira vez que escrevo com intenção, tentando estratégias para chegar em algum objetivo e acredito ser justamente isso que me permite recalcular a rota ao invés de abandonar o projeto.
Como escritora iniciante, preciso conciliar meu trabalho remunerado com a escrita não remunerada e fazer isso equilibrando os outros pratinhos de cuidados domésticos, pessoais e sociais, ou seja, a vida de todo mundo que vive para a arte.
Para pagar as contas, trabalho como professora e coordenadora em um curso de italiano. Em dezembro do ano passado as minhas turmas entraram de férias e as aulas só retornariam em março, então comprei um planner e segui, com relativa disciplina, o combinado de escrever diariamente e manter uma frequência quinzenal desta newsletter. O plano era criar um acervo de publicações e deixá-las agendadas para os meses letivos, além disso, de alguma forma a minha mente megalomaníaca acreditava que eu teria “tempo de sobra” para voltar a trabalhar no romance que estou escrevendo.
O mês de março só teve uma publicação por que em fevereiro o combo carnaval + início de semestre no curso foi subestimado e não consegui escrever a segunda postagem do mês. Para falar a verdade, não deu nem tempo de fazer stories ou uma edição especial de encerramento das férias como eu havia planejado.
Desde então, uma parte de mim que é megalomaníaca, obsessiva e perfeccionista está em crise profunda, acreditando que a experiência de escrita durante as férias foi um fiasco, assim como eu e todo o sistema capitalista e “ai, pobre de nós”. A outra parte, que presta mais atenção na terapia e é otimista, está lutando bravamente para entender que esses meses de férias trouxeram ensinamentos. Tentarei dar voz às duas porque nem tudo são flores, mas a caminhada fica mais bonita com elas.
Nesse período o maior aprendizado foi o poder da constância. Escrever com regularidade e disciplina realmente abre caminhos na mente que fazem a criatividade circular e tomar forma com mais facilidade. Por outro lado, aprendi também que publicações periódicas são uma rodinha de hamster. No tempo que levo para escrever, ilustrar e agendar a divulgação de um texto para daqui a quinze dias, o próximo da lista já foi publicado. Então, eu aprendi que minha melhor média de produção são dois textos por mês.
Meu desafio agora é equilibrar os pratinhos de professora que escreve neste novo ciclo do meu calendário que dura até julho e depois retoma em agosto. Tenho que ajustar minha expectativa para publicações mensais e este último mês foi dedicado a explorar espaços na rotina para escrever com constância, mas abrir esse novo tópico na próxima newsletter porque minha personalidade obsessiva por planilhas e calendários ainda não se deu por satisfeita na busca pela rotina perfeita.
Recomendações do mês
Continuar, o verbo (newsletter “Te escrevo cartas” da Paula Maria)
Ela fala sobre carreira e esses momentos em que a gente sente que fracassou e precisa recomeçar, mas e se ao invés de recomeço pensássemos em continuação?
O que significa sucesso editorial? (podcast “Papo Tatuí” entrevista Ana Elisa Ribeiro)
É bom ouvir a Ana contando como concilia a carreira acadêmica com a literária, às vezes caio na armadilha de pensar que fora da CLT as coisas seriam mais fáceis. Spoiler: nunca é, porque tudo é difícil.
Dias Perfeitos (filme de Wim Wenders, 2023)
Indicação da minha queridíssima companheira de apartamento e mãe dos gatos que moram com a gente. Esse filme é uma poesia e no seu silêncio soube acalmar meus pensamentos obsessivos e megalomaníacos com a lembrança certeira de que viver o presente é literalmente construir nossos sonhos um dia de cada vez.
Me reconheço total e completamente em suas palavras, embora não faça publicações. Muito obrigada por compartilhar! 😍